Monumento a Luís de Camões, Foz do Douro, Porto, créditos Vítor Oliveira 2012

CAMÕES

O contacto por parte de Carlos Soares, coordenador do Plano Nacional das Artes do Agrupamento de Escolas  de Alcochete, proporcionou a criação de um programa de oficinas e performance intitulado “Camões: conto e canto”. A proposta inclui sonetos adaptados, canções que contam a sua vida, resumem os cantos dos Lusíadas, e apresentam os instrumentos e géneros musicais do seu tempo. Prevê a construção e utilização de instrumentos feitos de materiais reutilizados (e instrumentos de regiões por onde Camões passou).

Com a estrutura semelhante podem ser criados programas sobre outros poetas, escritores e artistas, ou sobre o património material e imaterial de um concelho, com cantos, contos, declamação e percussão.

Camões: conto e canto

Performance

Poemas adaptados e canções com percussão sustentável, e instrumentos musicais de regiões por onde Camões passou 

Vida

Camões é o Portugal que quer ser mais. O que tem a noção de que é contraditório. O que luta pelo essencial até ao fim.

Instrumentos:

Chincalhos, bateria digital

Grupos: percussão / declamação

Os feitos e os heróis que conhecemos
Pelos versos admiráveis de Camões
Merecem ser lembrados, hoje e sempre,
Por cantos e por novas criações.

Luís terá nascido em Lisboa,
cidade capital, onde morreu.
E tanto aprendemos sobre o mundo
Nos épicos poemas que escreveu!

As dúvidas são muitas sobre a vida
envolta em ação e aventura.
Terá nascido de família nobre,
Mas da infância, tudo é conjetura.

Gostava de estudar o Classicismo,
História, Literatura, Geografia.
Até Latim o jovem estudou;
a padre, é certo, nunca chegaria.

Em rixas e contendas se envolveu,
sabendo usar a espada com destreza.
Gravou em poesia a paixão,
quer fosse uma plebeia ou princesa.

O amor maior não foi correspondido
E como militar se alistou.
Perdeu um olho em África, a lutar,
Até que à Metrópole voltou.

Foi preso, recebeu depois indulto,
partiu mais tarde para o Oriente.
Naufrágios e combates e prisões
demonstram como era um resistente.

Esteve em Goa, Índia e Macau,
e viu-se em Moçambique na pobreza.
Mas nunca desistiu da epopeia
que dá destaque à alma portuguesa.

Luís publica a sua obra prima
e torna-se com ela imortal.
Lusíadas, a D. Sebastião,
poema da expansão de Portugal.

A fama, com a morte, aumentou.
Camões é um sinal de identidade.
Inspira nos combates que travamos
Coragem p’ra vencer a adversidade.

António José Ferreira

Amor é fogo que arde sem se ver

Nos sonetos, Camões escreve Amor, Beleza e Mulher com maiúscula. Camões diz melhor do que nós próprios o que nós sentimos sobre o amor.

Instrumentos:

Supermaracas

Fogo que arde sem se ver,
é ferida e não se sente,
alegria descontente,
dor que mata sem doer.

Camões sabia,
ele sentia

e que bem que escreveu.
Também eu sinto,
às vezes minto,
e seu poema é o meu.

O amor é bem querer,
andar só por entre a gente,
insatisfação contente,
é ganhar em se perder.

Estar preso por vontade
e vencer o vencedor.
É contrário a si o amor,
a quem mata é ter lealdade.

Instrumental Escola Amiga

Adaptação do soneto de Camões e música de António José Ferreira

Ser poeta

O que é ser poeta? É uma pergunta para mil respostas, e cada poeta teria provavelmente mais do que uma.

Instrumentos:

Tamboritos

Ser poeta é ser mais alto, ver mais longe,
É ter no seu peito uma estrela a brilhar.
Ser poeta é ter as asas de gaivota,
É ter a coragem de as barreiras superar.

Ser poeta é ser pensador.
Ser poeta é cantar o amor.

Ser poeta é, quando se olha o seu tempo,
Ver realidades que não vê o olhar comum.
Ser poeta é ter a paz e a revolta,
é ter vários eus discordantes dentro de um.

Ser poeta é combater p’la liberdade,
Ser poeta é ser feliz e infeliz.
Ser poeta é ser Pessoa e ser Florbela,
Ser poeta é levantar o seu país.

António José Ferreira

Descalça vai para a fonte

Camões é o artista que vê, que pinta usando a pena, com cores e metáforas, com adjetivos e hipérboles. E deixa-nos imaginar Leonor a caminho da fonte, com o pote à cabeça.

Instrumentos: bateria digital

Lá vai descalça para a fonte,
Leonor pela verdura.
muito bela e insegura.

Leva o pote na cabeça,
vai o testo em mãos de prata.
Sua cinta é de escarlata.

Descobre a touca a garganta,
o cabelo, entrançado,
fita de cor de encarnado.

Lá vai a Leonor tão linda,
chove nela graça tanta
que a terra toda espanta.

Na fonte está a Leonor
às amigas perguntando
p’lo seu amor chorando.

Posto seu pensamento nele,
porque a tudo o amor obriga,
canta, triste, uma cantiga.

O seu desejo enganando,
lá pergunta Leonor:
— Vistes lá o meu amor?

Cf. YDD 19

Adaptação do poema de Camões e música de António José Ferreira

A vara florida

Camões é o que destaca os feitos dos navegadores. E Vasco da Gama está entre os maiores. As canas da Índia com tampas coloridas aludem à lenda e realçam impressões do Oriente.

Instrumentos: canas chincalhonas

Vasco da Gama era um jovem estudioso. Gostava de Matemática, Astronomia e Navegação. Lia muito e tinha grandes projetos. E falava com os rapazes da sua idade em encontrar o caminho marítimo para a Índia. Por ocasião de um baile, um camponês foi ter com o Gama e perguntou-lhe:

“Então, menino Vasco, vai descobrir as Índias?…”

Vasco da Gama percebeu o tom irónico do homem. Irritado, pegou numa vara e exclamou:

“É tão certo eu descobrir a Índia como esta vara florir!”

A lenda diz que a aguilhada floriu. A história diz que Vasco da Gama chegou à Índia.

(Lenda da aguilhada florida, de Sines, adapt. por António José Ferreira)

Instrumentos:

Percussão com canas chincalhonas

Mudam-se o tempos

Camões é o que olha à sua volta e reflete sobre a vida e os tempos.

Instrumentos:

gongos

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser e muda a confiança.
Todo o mundo é composto de mudança,
sempre a revestir-se de novas qualidades.

Todos os dias nós vemos novidades
diferentes em tudo da esperança.
Ficam do mal as mágoas na lembrança
e do bem se o houve só restam as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e em mim converte em choro o doce canto,
e em mim converte em choro o doce canto.

E além deste mudar-se cada dia,
outra mudança provoca mais espanto,
que já não se muda como acontecia,
que já não se muda como acontecia.

Instrumental: Para a frente

Adaptação do soneto de Camões e música de António José Ferreira

Música no tempo de Camões

Camões não fala muito da música e dos instrumentos no seu tempo, mas conhecia-os certamente dos bailes palacianos, das cerimónias na igreja e cerimónias rituais dos povos que conheceu.

Instrumentos:

tradicionais de África e Ásia

Grupos: percussão / declamação

– Que música terá Camões ouvido?
Que géneros e estilos musicais?
– Cantigas e pavanas, vilancetes,
Romances e folias, madrigais…

– Que estilos dominavam no seu tempo?
O que provavelmente ouviu Camões?
– Na música profana, vilancicos,
Na música sagrada, as paixões.

– Terá ouvido algum polifonista
Que era nessa altura popular?
– Na igreja, pôde ouvir uma batalha,
No órgão, com trombetas a soar!

– Camões, se o quisesse, tocaria
Saltério, baixão e vihuela?
– Também a sacabuxa, a flauta doce,
Viola, alaúde e charamela.

– Em Ceuta, em Moçambique, ou em Macau,
A música vestia outras roupagens.
– Nem ele enumerava, se o quisessse,
Os instrumentos vistos nas viagens.

António José Ferreira

Lusíadas

Epopeia do povo português, os Lusíadas organizam-se em quatro planos: a viagem, os mitos, a História e as considerações do poeta.

Instrumentos:

Percubaldes

Grupos: percussão / declamação

Lusíadas são obra narrativa,
Camões é o narrador mais importante.
Mas outros narradores aparecem,
Em tom geral heroico e empolgante.

O canto I tem a proposição,
A invocação e a dedicatória.
Os deuses se reúnem em conselho.
Nem Baco poderá parar a história.

Já no segundo Canto, em Mombaça,
o rei quer acolher a lusa Armada.
A deusa Vénus leva-a para Melinde
e evita o que era uma cilada.

No Canto III se aprende Geografia
e história do povo português,
Do bravo Viriato a Dom Fernando
recorda-se o drama de Inês.

No quarto canto, Gama apresenta
a História da 2ª Dinastia.
Critica alguns Velhos do Restelo
com medo e sem ponta de ousadia.

O canto quinto conta a viagem
que acaba por dobrar o Adamastor.
Realça os perigos enfrentados
a morte dos amigos e a dor.

No canto sexto, iram-se os ventos,
depois a tempestade é serenada.
As ninfas nos apoiam, Deus ajuda,
E chega a Calecute a nossa Armada.

O sétimo dos cantos nos relata
O espanto ao ver um mundo diferente,
Costumes, tradições e novas línguas
E coisas que não há no Ocidente.

No canto oitavo, há desentendimentos
E o Gama até chega a ser refém.
Não há problema em fazer comércio
E tudo afinal termina bem!

O canto nono mostra, como sonho,
A encantada Ilha dos Amores
Com frutos sem cultivo, águas limpas,
Um filme destinado a vencedores.

O último dos cantos da epopeia
Revela, também ele, erudição.
Camões dedica ao rei e aconselha
Sabedoria a D. Sebastião.

António José Ferreira

Objetos a reutilizar

Canas da Índia

Tantas canas quantos os alunos da turma, a transformar em chincalhonas a usar no espetáculo. A cana é aqui associada à estadia de Camões na Índia.

Baldes

Baldes de 25 litros de óleo Shell Rímula X e outros do género, de menores dimensões, lembram percussões africanas e portuguesas.

Tampas metálicas

Tampas metálicas circulares serão usadas como gongos (lembrar a instrumentos do Oriente).

Monumento a Luís de Camões, Foz do Douro, Porto, créditos Vítor Oliveira 2012

Monumento a Luís de Camões, Foz do Douro, Porto, créditos Vítor Oliveira 2012

Contacto

António José Ferreira
962 942 759

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